Resenha da Semana: A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga Nunes

Resenha da Semana: A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga Nunes

BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS
Setor de Empréstimo Domiciliar

NUNES, Lygia Bojunga. A bolsa amarela. Rio de Janeiro: Agir, 1983. 115 p.

Raquel estava em busca de um lugar para guardar suas maiores vontades: crescer, ser homem e escrever (pois decidiu iniciar a carreira de escritora, começando por cartas). Por ser a caçula da família, era ignorada pelos irmãos e como não tinha ninguém para conversar, começou a escrever cartas para pessoas imaginárias, principalmente homens (pois em sua opinião, eles eram privilegiados na família, na escola, nos relacionamentos, pois tinham o poder de decidirem tudo). O primeiro destinatário imaginário foi André, um garoto dois anos mais velho, de cabelos e olhos pretos, que a aconselhava a não envolver familiares e pessoas próximas em histórias inventadas que sempre terminavam em confusão na vida real; depois inventou uma amiga para ele, a Lorelai, uma garota que a incentivou a fugir de sua casa atual para a anterior (na roça, onde sua família era mais unida) e as duas fugiriam juntas. Antes que a viagem imaginária desse certo, sua irmã mais velha descobriu as cartas e mais uma confusão entre Raquel e sua família. Desistiu de escrever cartas.

A pequena escritora passou a investir em romances, começando pela história de um galo, que resolveu mudar de vida, seu nome era Rei. Cansado de ser chefe de família, fugiu do galinheiro. A história foi descoberta por sua irmã mais velha, depois pela família inteira, chegou no síndico, e Raquel desistiu dos romances, após todos rirem dela e de suas histórias. A busca por um lugar para guardar suas três maiores vontades (crescer, ser escritora e homem), passou a ser prioridade em sua vida, até ela encontrar o esconderijo perfeito: uma bolsa amarela “Ela era grande; tinha até mais tamanho de sacola do que de bolsa.” Raquel começou a guardar os nomes de seus personagens imaginários, a vontade de crescer, de ser escritora, de ter nascido garoto, escondendo dos adultos suas vontades consideradas infantis. À medida que novas vontades surgiam, a bolsa aumentava de tamanho.

A bolsa amarela também abrigava o galo foragido da sua história de romance, o Rei, que virou Afonso (um dos nomes inventados, encontrado dentro da bolsa). O outro morador era o Alfinete de Fralda, encontrado na rua, enferrujado, que riscava na calçada um anúncio falando sobre sua utilidade a fim de encontrar um lar. Além disso, Raquel usava a bolsa amarela para carregar seus cadernos e livros, ficando cada vez mais pesada de levar à escola. Afonso, o galo, lhe deu um guarda- chuva de presente. Quando estava sendo feito, o homem da fábrica perguntou- lhe se queria ser guarda-chuva homem ou mulher, e escolheu ser mulher. “Fui andando e pensando que eu também queria ter escolhido nascer mulher: a vontade de ser garoto sumia e a bolsa amarela ficava muito mais leve de carregar.” A bolsa amarela foi ficando cada vez mais pesada, principalmente com a chegada de mais um morador: o primo do Afonso, Terrível, um galo de briga, que estava prestes a morrer numa competição com um galo mais novo e forte, e para evitar essa tragédia, Afonso e Raquel, resolveram prendê-lo dentro da bolsa.

A bolsa amarela passou a chamar a atenção da família de Raquel, que a carregava por todos os lugares e estava cada vez maior e mais pesada. Todos ficaram espantados com o tamanho e os barulhos que saiam de seu interior, até ela estourar, seus segredos serem revelados e Raquel ressignificar sua vida e o olhar que até então tinha sobre si mesma.

Aceitação sobre si mesmo, acreditar no seu potencial de realizar “o impossível” às opiniões alheias, encarar o cotidiano com mais tranquilidade, no seu próprio tempo, são as descobertas de Raquel durante o desenrolar de sua história.

 
Resenha por Débora de Paula Ribeiro
Servidora do Setor de Empréstimo da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais

 
Pular para o conteúdo
Fale Conosco