Resenha da Semana: Quarto de despejo: diário de uma favelada, Carolina Maria de Jesus

Resenha da Semana: Quarto de despejo: diário de uma favelada, Carolina Maria de Jesus

BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS
Setor de Empréstimo Domiciliar

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2017. 199 p.

 

Carolina Maria de Jesus (1914-1997) foi um grande marco na história da literatura brasileira. Sua primeira obra publicada, Quarto de Despejo, lançada em 1960, agitou a cidade de São Paulo e todo o Brasil. O livro foi traduzido para treze idiomas e tornou-se um best-seller na América do Norte e na Europa.

Esse livro tem um olhar melancólico de uma favela com todo o tipo de gente brasileira: negros, pobres, catadores de papel, latinha, entre outros. Relata por uma visão magnífica o dia a dia da população da Favela do Canindé, em São Paulo na década de 1950. Nas páginas, percebemos que Carolina é uma guerreira. Uma heroína. Ela e seus três filhos vivem em meio à sujeira, à fome e à miséria. Ela é mulher, mãe solteira e moradora de uma favela prestes a ser destruída. O próprio quarto de despejo.

O livro traz em si uma carga emocional muito grande que é depositada sobre a nossa personagem principal: Carolina Maria de Jesus. Uma escrita realista revela o cotidiano de uma mulher em meio à pobreza. Ela levanta sempre muito cedo e vai catar papel para vender e ganhar uma miséria para conseguir sustentar três crianças. Carolina deixa de comer para dar aos filhos. Saiu do interior de Minas Gerais para tentar uma vida melhor em São Paulo. Tudo o que Carolina escreve em seu diário são relatos do sentimento da fome, da miséria e da indignação contra políticos que só aparecem na favela antes da eleição e, depois, quando recebiam os votos, desapareciam e não davam as caras lá tão cedo.Muitos têm pouco, e poucos têm muito.
 
A relação entre a comunidade da favela é muito desigual. Muitas pessoas são amigas, já outras, inimigas. Vemos o cotidiano do povo e o que todos eles passam para sobreviver e conviver uns com os outros. Mesmo não tendo o amanhã definido, Carolina batalha para não deixar seu lar cair no caminho errado. Mesmo sendo querida por uns e odiada e invejada por outros na favela, ela sempre realiza boas ações e se coloca no lugar do outro. Ela tem empatia, o que falta muito hoje em dia. Ela constrói sonhos em seus pensamentos. Muitos deles não são realizados, como o sonho de ter um vestido rodeado por véu e ceda e o sonho de ter uma máquina de costura. Ou, também, o sonho de dar alguns pares de sapatos para seus filhos.
 
Carolina toma um espaço inimaginável na consciência de quem lê o livro. Ela faz várias referências sobre coisas e pessoas da época mostrando a sua indignação com a vida que leva, afinal, ninguém quer ter uma vida dessas, mas tem gente que ignora os problemas e continua lá. Várias pessoas já desistiram de tentar sair da favela, desistiram de tentar uma vida melhor, mas ela nunca tem esse pensamento. Seus esboços e rascunhos de uma vida inteira são a única esperança de sair daquele lugar.

 
Resenha por Rossana Kátia Pimentel Cunha
Servidora do Setor de Empréstimo da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais

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