Resenha da Semana: Memórias de uma gueixa, de Arthur Golden

Resenha da Semana: Memórias de uma gueixa, de Arthur Golden

BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS
Setor de Empréstimo Domiciliar

GOLDEN, Arthur. Memórias de uma gueixa. São Paulo: Arqueiro, 2015. 446 p.

Abertamente criticado pela comunidade nipônica de gueixas por quebrar o tradicional silêncio que o ofício mantém em sua arte, “Memórias de uma gueixa” é uma obra polêmica que chegou a gerar um processo entre uma das mais famosas gueixas do mundo e o autor por quebra de confidencialidade. Um romance temporal que retrata a beleza misteriosa e sedutora de uma jovem que segue a impetuosa trilha de se tornar uma gueixa completa. Em um Japão pré-guerra, Chiyo crescia feliz com sua irmã mais velha, Satsuki, e seus pais em sua “casa bêbada” no alto da colina. Ignorante do mundo para além de sua vila, Chiyo já observava o seu redor de modo diferente e autêntico. Com olhos azul-acinzentados, a menina com muita água na personalidade chama a atenção por sua beleza e inteligência.

Quando sua mãe cai moribunda, seu pai recebe a oferta de um bem sucedido senhor local para levar suas filhas até a grande cidade de Kioto, onde receberiam treinamento adequado com melhores chances de vida. Sem saberem quais seriam os seus futuros, Chiyo e Satsuki são tiradas de casa e levadas por estranhos até uma cidade que nunca haviam visto igual. Vendidas para casas diferentes, as irmãs são separadas logo que chegam a Kioto e são impedidas de se comunicarem ou de se verem novamente. Sozinha e desolada, Chiyo é estabelecida em uma okiya, uma casa onde vivem gueixas e aprendizes.

Juntamente com outra criança da mesma idade, brilhantemente apelidada de Abóbora, Chiyo passa a servir como empregada na casa enquanto passa a receber as primeiras lições de artes e comportamento. Sem esquecer a irmã, a menina se esforça para descobrir seu paradeiro enquanto obedecem às milhares de ordens e tarefas das patronas que guiam a organização da okiya. A despeito das tentativas da vaidosa gueixa Hatsumomo em depreciá-la e prejudicá-la, Chiyo consegue se destacar em seus estudos e rever sua irmã, vendida para uma casa de prostituição. Com uma tentativa falha de fugir com Satsuki a menina acaba com um braço quebrado, dívidas de uma vida e seu futuro como queixa abandonado pela chefe da casa. Sem esperanças, Chiyo se vê novamente sozinha e órfã, fadada a servir o resto de sua vida como serviçal enquanto Abóbora continua seus estudos e se agarra à chance de ascender.

Tudo parece já definido quando um encontro inesperado muda completamente o seu mundo e dá novo sentido a sua vida. Com a sorte ao seu lado, a jovem consegue por acaso ser percebida por uma gueixa extremamente importante que a apadrinha, possibilitando que a garota volte a estudar e ser financiada pela okiya, desde que ela pague seus débitos antes dos 20 anos. Incentivada e apoiada, Chiyo se esforça para se tornar uma gueixa bem sucedida como Mameha e ganhar a atenção de homens ricos e poderosos. Com sua brilhante apresentação, a jovem toma o título de aprendiz de gueixa e passa a ser conhecida como a encantadora Sayuri. Armada com o conhecimento de como entreter e cativar um homem, vários são encantados por sua beleza e sagacidade, alguns até apaixonados pela doce jovem de olhos marcantes. Sayuri segue os ensinamentos de sua “irmã” e logo se torna uma gueixa famosa e desejada. Sempre respeitando as orientações de Mameha, a jovem segue seu futuro brilhante sempre levando seu verdadeiro objetivo em segredo junto a seu peito.

Para além de uma história de romance, a obra aborda vários questionamentos profundos como a doação que certos artistas se permitem na busca pela perfeição, incluindo dor física e abusos psicológicos, além de assuntos polêmicos, como a prática do mizuage, a venda da virgindade de uma gueixa. Com um olhar de deferência para a cultura japonesa, Golden tenta expor dilemas alarmantes que cimentam uma cultura maravilhosa, mas também opressora. Memórias de uma gueixa retrata, com ficção, um dos mais antigos e misteriosos grupos artísticos do Japão.

Resenha por: Isadora Amaral Campos
Servidora do Setor de Empréstimo da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais
 

 
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