Minas Gerais se destaca na formação da identidade literária do país

Minas Gerais se destaca na formação da identidade literária do país
Do pioneirismo à reinvenção, os imortais da literatura mineira são responsáveis por narrativas que projetaram Minas no cenário nacional
 
Um único povo, muitas histórias. Ao longo de 300 anos desde a fundação da Capitania de Minas Gerais, nosso estado tem contribuído de diversas maneiras para a formação da identidade cultural brasileira. A Literatura, em especial, guarda grandes exemplos de quem traduziu, em páginas e mais páginas, a saga do povo mineiro, por meio de narrativas fantásticas, versos regionalistas e observações cotidianas.
 
No acervo da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, que possui mais de 500 mil títulos, é possível entender como a produção literária do estado assumiu o protagonismo na cena artística brasileira em diferentes momentos, como explica a diretora do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Secretaria de Estado de Cultura e Turuismo (Secult), Alessandra Gino. “A diversidade do nosso acervo passa pela produção dos escritores mineiros, com exemplos que vão desde os primeiros movimentos literários à cena contemporânea da literatura”, comenta.
 
Prólogo mineiro
Ainda no século XVIII, em Vila Rica – atual Ouro Preto, começaram a soar as vozes que iniciaram, para muitos estudiosos, a Literatura Brasileira. O arcadista Cláudio Manuel da Costa publica em 1773 o poema “Vila Rica”, narrando em versos a Inconfidência Mineira, a saga dos bandeirantes e a fundação de diversas cidades na região, que havia se separado da capitania de São Paulo e Minas de Ouro.
 
A partir da obra de Cláudio Manuel, seguiram, também, Basílio da Gama, com “O Uraguai” (1769) Santa Rita Durão, com “Caramuru” (1781), e Tomás Antônio Gonzaga, com “Marília de Dirceu” (1792) e “Cartas Chilenas” (1845). De acordo com Alessandra Gino, as publicações do século XVIII deram início aos primeiros movimentos literários em Minas. “Na segunda metade dos anos 1700, Minas Gerais se tornava o palco da literatura brasileira com o surgimento do Arcadismo. Mesmo com fortes influências europeias, esse movimento tinha traços muito característicos do que acontecia no país à época da colônia.  A produção árcade era marcada por poemas líricos, obras satíricas e literatura épica, refletindo desejos, anseios, aventuras e descontentamentos do povo”.
 
Após esse período embrionário, surgia uma nova fase literária: o Romantismo. Nos primeiros anos do século XIX, os gritos de Independência iniciados pelos árcades e a vontade de mudança social estimulada pelas abolicionistas dominavam parte da produção artístico-literária no país. Inspirados por esse cenário, de Minas Gerais emergiam Bernardo Guimarães e Alphonsus de Guimaraens. Uma das obras mais importantes dessa fase é “A Escrava Isaura” (1875). De autoria de Bernardo Guimarães, foi escrita no calor da campanha abolicionista e narra a história de Isaura, uma escrava mestiça em busca de sua liberdade. Guimarães também é autor de outras produções Românticas, como “Cantos da solidão” (1852), “O Seminarista” (1872) e “Poesia Erótica e Satírica” (1883).
 
Já Alphonsus de Guimaraens (pseudônimo de Afonso Henrique da Costa Guimarães) enveredou pelos campos do Simbolismo e do Neorromantismo. Uma das obras mais conhecidas do autor é “Ismália”, um poema repleto de simbologias. A obra de Alphonsus, que é sobrinho-neto de Bernardo Guimarães, também é reconhecida por tratar de temas como misticismo, morte e religiosidade.
 
Epílogo vanguardista
O século XX, como um todo, é marcado por uma projeção ainda maior de Minas no cenário nacional. A grande produção literária do itabirano Carlos Drummond de Andrade consolidou o estado como um celeiro de grandes escritores. Com a publicação de “A Revista” (1925), um periódico dedicado ao movimento Modernista Brasileiro, Drummond colocava Minas na vanguarda literária nacional.
 
A revista tinha colaboradores de peso, como Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho e Onestaldo de Pennafort. “Essa publicação foi um marco daquele período. Minas rompia seus limites, apresentando trabalhos vanguardistas para todo o país. Outro ponto importante é que havia um desejo de renovação nas letras nacionais”, destaca Alessandra Gino. Essa revolução se consolida com a mente criativa de João Guimarães Rosa. Natural de Cordisburgo, o escritor transformou a literatura brasileira com a publicação de “Sagarana” (1946) e “Grande Sertão: Veredas” (1956). O experimentalismo linguístico do autor confundiu – e encantou – os brasileiros, que encontram nos livros de Rosa um universo sertanejo repleto de tradições orais replicadas em palavras.
 
Escritoras mineiras
As mulheres têm uma intensa contribuição para a literatura no estado, e Lúcia Machado de Almeida ocupa lugar de destaque no panteão. Essa mineira de São José da Lapa foi responsável por despertar o gosto pela leitura em crianças e adolescentes. “O Escaravelho do Diabo” (1953) é sua obra de maior sucesso e considerada uma das produções de ficção mais importantes da literatura nacional.
 
Já o jornalismo literário ganha espaço com o olhar da juiz-forense Daniella Arbex. Uma das jornalistas mais premiadas do país, Daniela já publicou três livros-reportagem contando histórias marcantes. Um de seus trabalhos de maior destaque é “Holocausto Brasileiro” (2013), que narra o genocídio de mais de 60 mil pessoas em um hospital psiquiátrico em Barbacena.
 
Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo também ganham notoriedade pela forma com que descreveram suas trajetórias pessoais. A primeira escreveu Quarto de Despejo: Diário de uma favelada (1960), a partir da dureza de seu cotidiano em uma favela de São Paulo. Já a segunda é considerada uma das vozes mais importantes no movimento literário negro do país, sendo inspiração para várias novas escritoras.
 
Além das páginas
Os jardins da Biblioteca Estadual também guardam seus imortais, só que em outra linguagem artística. A instalação “Encontro Marcado” reúne as esculturas de Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos, chamados de os “Quatro Cavaleiros do Apocalipse” da Literatura Mineira. Ao encontro dos escritores, está Murilo Rubião, precursor do realismo fantástico na língua portuguesa e criador do Suplemento Literário de Minas Gerais. As duas esculturas são de autoria do artista mineiro Leo Santana.
 
Os títulos e autores citados na matéria podem ser consultados no catálogo on-line disponível no site da Biblioteca Pública Estadual. Como medida de prevenção ao Coronavírus, todos os serviços presenciais da Biblioteca estão suspensos no momento. Acompanhe as redes da Secult para novas informações.
 
 
 
Foto: Izabel Chumbinho /Iepha-MG
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