O “educacionista” Paulo Freire

O “educacionista” Paulo Freire

Patrono da Educação Brasileira é guardião de um legado de incontáveis mudanças na forma de se ensinar

Neste domingo, 19 de setembro, é celebro o centenário de nascimento de Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira. Ao longo deste ano, publicamos conteúdos especiais em homenagem aos 100 anos do educador, sempre no dia 19 de cada mês, até chegarmos à data de hoje. Com a série #PauloFreireFaz100Anos, disponibilizamos, em nossas redes sociais e em nosso site, diferentes informações sobre a vida e a obra de Freire, com o objetivo de torná-lo ainda mais conhecido e admirado.

Foi uma forma singela homenagem da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, ressaltando a importância de Freire não só para a educação, mas evidenciando a amplitude da produção do educador que trouxe uma nova visão de mundo e uma abordagem diferenciada sobre a vida, marcada pela amorosidade e pela luta em favor dos oprimidos. E também pelo respeito às diferenças, a solidariedade, o diálogo, a liberdade – valores que se aplicam em toda profissão, na política, na religião e na vida toda, em qualquer situação.

Este foi um ano de muitas homenagens a Freire – no Brasil e no mundo: muitas palestras, debates, seminários, cursos e apresentações culturais para comemorar os cem anos de seu nascimento. Felizes são aqueles e aquelas que conviveram com o Educador e beberam na fonte os seus ensinamentos e os colocaram na prática. E também nós, que podemos ler seus livros, refletir e aplicá-los no nosso cotidiano, nos nossos relacionamentos com o próximo. Aliás, este tem sido um ano propício para ler ou reler Pedagogia do Oprimido; não só por causa do Centenário, mas por tantos desafios que estamos enfrentando em nosso país.

O livro, escrito há mais de 50 anos, continua atual. Ao redor do mundo, a obra publicada por Freire em 1968, é a terceira com mais menções em trabalhos acadêmicos. São quase 73 mil citações, segundo pesquisa realizada pela Escola de Economia e Ciência Política de Londres, em 2016. De acordo com o projeto Open Syllabus, Pedagogia do Oprimido é também a única obra brasileira a configurar na lista de 100 livros mais pedidos por universidades estrangeiras.

Paulo Freire é descrito por muitos que o conheceram como uma pessoa que pensava no amor e amava o próximo; uma pessoa leve, engraçada, com muito senso de humor. Ele era generoso, adorável, dedicado ao seu trabalho e à sua família. E um grande criador de palavras. Freire deu um novo sentido à palavra conscientização. E tratou a Educação como prática de liberdade, como possibilidade de acabar com a opressão. Com isto, ele mudou a concepção do ensino.

Não basta saber ler que Eva viu a uva; é preciso que esta frase esteja dentro do contexto político. Afinal, quem trabalhou para que a uva fosse produzida? E quem lucra com a produção dessa uva?

Seu método de alfabetização, de maneira simples, mas significativa, faz com que o adulto aprenda a escrever as palavras que ele mesmo gosta de usar no seu dia a dia. Exemplos: se ele corta cana, ele aprende a escrever cana. Se ele trabalha em uma fábrica de sapato, ele escreve sapato. Ao falar ou escrever a palavra greve, ele aprende também a dimensão da sua luta, do seu protagonismo. E, assim, ele vai se alfabetizando para ler o mundo inteiro.

Ideias pedagógicas como essa correram o mundo, recebendo elogios e aplausos entusiastas, tanto que em 2012, Freire foi declarado pelo Congresso Nacional como Patrono da Educação, mas também foi alvo de muitas críticas, xingamentos, menosprezo sem nenhum embasamento acadêmico, condutas na contramão da vivência de Freire. A abordagem freiriana tem como princípio a liberdade do estudante, garantindo-lhe autonomia para pensar criticamente a sua realidade e transformar o mundo. E isso sempre assusta pessoas com tendências autoritárias. Há dois motivos para condenar os princípios de Freire e querer anular sua prática na Educação: ou por ignorância (no sentido de não compreender o educador e suas contribuições) ou por interesse. 

Em 2019, Freire foi homenageado pela escola de samba Águia de Ouro, que comemorou pela primeira vez, nos 43 anos da agremiação, o título de Campeã do Carnaval de São Paulo. A escola quis contar a história do desenvolvimento do conhecimento humano – desde a época pré-histórica até um possível futuro sustentável e tecnológico. O desfile foi considerado o mais politizado daquele ano. A quarta ala da escola entrou na avenida para falar da importância da Educação e apresentou uma gigantesca alegoria com a representação do educador pernambucano Paulo Freire, vestindo roupas coloridas e segurando um livro em que era possível ler: “não se pode falar de educação sem amor.”

Paulo era um Educador e, também, um Educacionista. Educador é aquele que dentro da sala de aula pratica uma atividade educativa. E Educacionista é aquele que luta para fazer a transformação do seu País através da educação.

Outra questão relevante neste centenário é a importância de Elza Freire na vida e obra do Educador. Ela casou-se com Freire em 1944, aos 23 anos, com quem viveu até a sua morte, em 1986. Elza foi mais do que a companheira de todas as horas do Educador brasileiro. Como professora, ela despertou no marido a vocação para o trabalho com educação. Ela colaborou de forma decisiva para a estruturação e sistematização da teoria do conhecimento formulada por Freire. Para Nima Imaculada Spigolon – autora do livro “Pedagogia da Convivência – Elza Freire: uma vida que faz Educação” – é impossível discutir a história da educação no Brasil, em particular a história da educação de adultos, sem analisar a atuação de Elza.

Este Centenário nos impulsiona a adentrar nas obras de Freire, a ampliar o debate sobre a Educação em nosso País e também a perceber o quanto Freire continua hoje inspirando gerações de professores que promovem uma educação dialógica e que lutam por políticas públicas efetivas. E isto é motivo de celebrar o centenário, é motivo de alegria e de orgulho por todos aqueles que honram o nosso País. freire se faz presente em cada um desses educadores. Freire está vivo em cada atitude de solidariedade e sua memória nos enche de esperança. Não esperança do verbo esperar, mas esperança do verbo esperançar…de fazer acontecer.

Viva como Freire!!!Viva Freire!

Saiba mais:
O Legado de Paulo Freire
Hino em comemoração aos 100 anos de Paulo Freire
Letra: Renato Caranã/ Música: Charles do Arraia
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