Resenha da Semana: A Hora da Estrela, de Clarice Lispector

Resenha da Semana: A Hora da Estrela, de Clarice Lispector
BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS
Setor de Empréstimo Domiciliar

LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela
Romance. São Paulo: 1977, 86 p.

 

Em “A Hora da Estrela”, romance de Clarice Lispector publicado pela primeira vez em 1977, somos apresentados a Ricardo S. M., o narrador da história e que, ao mesmo tempo, toma a forma de um dos personagens principais da história. O narrador nos conta sobre Macabéa, talvez a personagem mais miserável que você pode conhecer.

“Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: a moça não tinha. Não tinha o quê? É apenas isso mesmo: não tinha.”

Alternando entre a narração, as reflexões de Macabéa e as do próprio Rodrigo S. M., conhecemos a história da mulher. Nordestina, virgem e miserável, mal tem a consciência de que existe. Depois de perder a tia, muda-se para o Rio de Janeiro, onde se emprega como datilógrafa. Na sua vida sem graça, seu único passatempo é ouvir o rádio que pega emprestado de uma das colegas. Porém, tudo muda quando ela conhece Olímpico.

É uma história extremamente simples. Nas palavras do próprio narrador: “Proponho-me que não seja complexo o que escreverei”. Porém, Clarice constrói essa simples narrativa num pilar de reflexão e introspecção, utilizando palavras e metáforas que, além de nos fazer ler o mesmo parágrafo várias vezes, constroem um sentido poético inigualável.

Através desse pilar, Clarice Lispector nos leva a questões sobre a nossa existência, sobre o nosso papel individual na sociedade e sobre quem somos nós. De algum modo, é possível se identificar com Macabéa em algum momento da história. Quem nunca se sentiu perdido? Quem nunca ficou em choque ao perceber a verdadeira realidade que nos cerca? Quem nunca se apaixonou pela pessoa errada? Quem nunca levou um bolo na vida?

“Pois que vida é assim: aperta-se o botão e a vida acende. Só que ela não sabia qual era o botão de acender. Nem se dava conta de que vivia numa sociedade técnica onde ela era um parafuso dispensável.”

A escrita, porém, pode não agradar a todos. Clarice Lispector possui uma linguagem própria, cheia de metáforas, grafias próprias, frases articuladas de um jeito único e longos parágrafos de filosofia e reflexão. Mas com um esforço acabamos nos envolvendo na história de Macabéa e nos apaixonamos por ela, como o próprio narrador;

Enfim, A Hora da Estrela, vai fundo no universo humano, na tristeza, na solidão e nas dificuldades que enfrentamos.

A Hora da Estrela é um livro recomendado àqueles que gostam de leituras profundas e reflexivas.

Resenha por
Rossana Kátia Pimentel
Coordenadora do Setor de Empréstimos da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais

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