Resenha da Semana: A Resposta, de Kathryn Stockett

Resenha da Semana: A Resposta, de Kathryn Stockett

BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS
Setor de Empréstimo Domiciliar

STOCKETT, Kathryn. A resposta. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. 573 p. 

A autora norte-americana Kathryn Stockett nasceu na cidade de Jackson, Mississipi, em 1969. Seu livro “A Resposta” se passa na mesma cidade em que a autora nasceu, também na década de 1960, e segundo a própria autora foi uma tentativa de acalmar sua mente e mostrar uma realidade cruel, porém comum que acontecia não só na pequena cidade de Jackson, mas em muitos lugares nos Estados Unidos na época. O livro conta de forma geral a história da vida das empregadas domésticas negras que trabalhavam em lares de pessoas brancas na cidade de Jackson, e mais especificamente a história de duas dessas empregadas, Minny, uma excelente cozinheira que é conhecida por falar demais, e Aibileen, que já havia cuidado de mais de 17 crianças brancas nos lares em que trabalhou. Em uma época de extrema segregação racial e racismo, as empregadas de Jackson sofriam constantes humilhações por suas empregadoras brancas, além de receberem pouco, sofrerem agressões físicas e psicológicas e não poderem nem ao menos usar o mesmo banheiro que o restante das pessoas da casa, por acharem que as pessoas negras eram disseminadoras de doenças.

Nesse cenário, a autora nos apresenta uma terceira protagonista, Skeeter, uma mulher branca, recém-formada em jornalismo pela universidade de Nova Iorque que, ao retornar para sua cidade natal, tenta realizar seu sonho de ser escritora. Sem perspectivas promissoras, Skeeter consegue apenas um emprego no jornal local e acaba sendo escalada para o trabalho entediante de escrever uma coluna sobre limpeza e cuidados domésticos. Sem qualquer conhecimento sobre o assunto, recorre a Aibileen para pedir dicas de cuidados com a casa como a melhor forma de retirar manchas ou receitas, e à medida que os laços dessa relação vão se estreitando, Skeeter percebe o problema racial na cidade e o quanto a vida daquelas mulheres que trabalham como domésticas é difícil, penosa e sofrida.

Seguindo o conselho de sua editora de Nova Iorque, a jornalista decide então escrever um livro de relatos mostrando o outro lado, o ponto de vista das empregadas negras sobre como é trabalhar para patroas brancas que as humilham todos os dias e as veem com desconfiança e repúdio. À medida que vai escrevendo o livro e colhendo relatos, Skeeter enxerga o tanto que possui uma posição privilegiada na sociedade por ser uma mulher branca e demora a entender o motivo daquelas mulheres sentirem medo ou raiva dela. Aos poucos, percebe o quanto ela mesma é racista várias vezes sem perceber, por ser fruto do meio racista em que foi criada. Aos poucos, a jornalista vai percebendo a importância daqueles relatos e o quanto ela e o resto de Jackson precisam ter concepções e preconceitos desconstruídos para que aquelas mulheres negras não precisem se esconder ou temer por suas vidas por simplesmente estarem conversando com ela.

Diz ela própria em um dos trechos: “Histórias furiosas brotam, de homens brancos que tentaram tocá-las. Winnie conta que foi forçada inúmeras vezes. Cleontine disse que se debateu até tirar sangue do rosto do agressor, e que ele nunca mais tentou. Mas a dicotomia de amor e desprezo vivendo lado a lado é o que me surpreende. A maioria é convidada para o casamento das crianças brancas, mas só se for de uniforme. Essas coisas eu já sei; no entanto, ouvi-las da boca da pessoa de cor é como ouvi-las pela primeira vez.”

A autora foi muito criticada por ser uma mulher branca escrevendo um livro sobre a luta de mulheres negras em um período tão difícil na América, período que a autora vivenciou quando criança, e também pelo fato de o livro ter virado um best seller, que não seria o caso se uma autora negra o tivesse escrito. Diz ela: “(…) não pretendo pensar que sei como era ser uma mulher negra no Mississippi, sobretudo nos anos 1960. Acho que é algo que uma mulher branca que paga o salário de uma mulher negra jamais poderá entender completamente. Mas tentar entender é vital para a nossa humanidade”. O livro fala sobre muitos assuntos relevantes como violência doméstica, supremacia branca, violência de gênero, racismo e falta de emprego para as mulheres, e é uma leitura relevante por abordar temas que infelizmente são recorrentes até nos dias atuais.

Resenha por Rachel Gervásio De Marco
Servidora do Setor de Empréstimo da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais

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