BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS
Setor de Empréstimo Domiciliar
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016, 244p.
O livro “Mulheres, raça e classe”, de Ângela Davis, apresenta uma análise histórica do feminismo negro norte-americano e das movimentações políticas que aconteciam durante as décadas de 1960 e 1970 pela luta abolicionista nos Estados Unidos. Ângela Davis é professora universitária e filósofa marxista norte-americana, foi integrante do Partido Panteras Negras, e, desde a juventude, exerce sua militância pelos direitos políticos e civis. O livro relata o nascimento do movimento abolicionista, o surgimento do sufrágio e a luta pelos direitos femininos, tudo sob a lente da questão racial. A extensão da obra confirma a dedicação como que as informações são expostas e sob uma abordagem crítica. Davis inicia o seu percurso histórico falando sobre o período escravagista, apresentando os impactos do colonialismo no continente americano, como elemento fundante das desigualdades e violências diversas praticadas contra a população negra.
Davis argumenta em nome da família negra, evidenciando a ausência de uma literatura nesse período que trate da mulher negra dentro desse contexto de violência e desigualdade, negando, pois, o mito do matriarcado, que coloca a mulher na esfera doméstica, ‘protegida’ pelo rótulo de dona da casa. Não havia patriarcado e nem matriarcado quando se tratava da população escrava: tanto os homens quanto as mulheres estavam igualmente expostos ao trabalho pesado, castigos e violências diversas. A reprodução tinha fins lucrativos, com a comercialização dos escravos nascidos. Quanto às mulheres negras, “aos olhos de seus proprietários, elas não eram realmente mães; eram apenas instrumentos que garantiam a ampliação da força de trabalho escravo” (Davis, 2016, p.19). Esses fatos estão ilustrados na obra, demostrando que a violência contra as mulheres negras fazia parte da dinâmica econômica e da estrutura social.
A autora enfatiza que ainda que o contexto fosse adverso, essas mulheres encontraram caminhos para a resistência, através da aprendizagem de leitura e escrita, mesmo que de forma clandestina. Davis (2016) menciona que muitas arriscaram a própria vida para que meninas negras pudessem estudar mesmas com os limites apresentados, a resistência foi construída, como já dito anteriormente, negando assim a tese da inferioridade biológica da população negra em relação à branca. Nesse sentido, o feminismo negro compreende que as categorias estruturais raça, gênero e classe não devem ser vistas de forma dissociadas. Portanto, é de fundamental importância que o conceito de interseccionalidade seja considerado nas análises conjunturais para que sejam construídas práticas que visem o rompimento do padrão eurocêntrico. A educação descolonial e feminista pode contribuir desse modo para “perturbar certezas, ensinar a crítica e a autocrítica (um dos legados mais significativos do feminismo), para desalojar hierarquias”.
Assim, as considerações de Angela Davis, no tocante ao feminismo negro, devem ser consideradas para a construção de uma pedagogia emancipatória, uma nova práxis, que seja a favor da luta antirracista e que possa fortalecer o estado democrático de Direito. A escola como espaço político e social, deve assumir essa responsabilidade, buscando apresentar leituras que contribuam para práticas igualitárias e objetivando a superação do racismo epistêmico, dando voz e lugar as subjetividades subalternas.
Resesnha por Bruno Alvarenga
Estagiário do Setor de Empréstimos da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais