Inspirações literárias marcam a produção cinematográfica brasileira

Inspirações literárias marcam a produção cinematográfica brasileira

Diferentes histórias narradas em páginas de livros foram adaptadas para o cinema, colaborando para a criação da identidade audiovisual do país

Nesta sexta-feira (19/6) é comemorado o Dia do Cinema Brasileiro. A data é uma homenagem ao dia em que o ítalo-brasileiro Afonso Segreto, primeiro cinegrafista e diretor do país, registrou as primeiras imagens em movimento em território nacional, em 1898. Mais de dois séculos após o pioneirismo de Segreto, o cinema brasileiro desenvolveu sua própria identidade, sem nunca deixar de lado as inspirações vindas das páginas dos livros. 
 
Para celebrar a data, a Biblioteca Pública Estadual, equipamento da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult) que integra o Circuito Liberdade, selecionou algumas das produções audiovisuais que traduziram a magia da literatura brasileira em filmes que conquistaram o público e a crítica.

Confira na lista abaixo:

Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, de Oswald de Andrade
Publicado em 1928 por Oswald de Andrade, o livro é uma das mais importantes obras da cultura brasileira. A narrativa fantástica e malandra reconta diversos temas sobre a mitologia indígena e traz visões folclóricas da Amazônia e de outras partes do país, criando uma nova linguagem literária, genuinamente brasileira. Em 1969, a adaptação desse clássico chegava às telas com direção de Joaquim Pedro de Andrade. Narrando a metamorfose do herói preguiçoso e sem caráter que nasce negro e se faz branco para emigrar da sertão para a cidade, o filme tem no elenco Grande Otelo, no papel principal, além de nomes como Paulo José, Jardel Filho e Milton Gonçalves.
Assista ao trailer de “Macunaíma”
 

O Guarani, de José de Alencar
Romance histórico de José de Alencar, o Guarani é uma das obras mais importantes sobre a formação da identidade cultural do povo brasileiro. Lançado no século XIX, em 1857, a história se passa no início do século XVII, na Serra dos Órgãos, interior do estado do Rio de Janeiro, em uma fazenda às margens do rio Paquequer. O romance entre o indígena Peri e a jovem Ceci, além dos conflitos entre índios e portugueses, dão o tom central da obra. Para o cinema, O Guarani teve sua adaptação em 1996. Com direção de Norma Bengell, a versão audiovisual da obra reuniu, no elenco, Márcio Garcia, como Peri, Tatiana Issa, no papel de Ceci, Glória Pires interpretando Isabel e Herson Capri como Dom António de Mariz.
 
O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos

Celebrada produção literária, a obra de José Mauro de Vasconcelos foi publicada em 1968, apresentando uma história fortemente autobiográfica. O protagonista Zezé tem seis anos e mora num bairro simples da Zona Norte do Rio de Janeiro. Com um pai desempregado, sua família passa por inúmeras dificuldades financeiras. Apesar disso, o garoto vive suas travessuras sem se importar com as limitações impostas e mantém uma improvável amizade com uma pequena árvore no quintal. A primeira adaptação para as telas aconteceu em 1970, sob direção de Aurélio Teixeira, com Maria Gladys, Elisa Fernandes e Júlio César Cruz. Em 2012, uma nova versão do filme era lançada. Dessa vez, com direção de Marcos Bernstein, e Caco Ciocler, José de Abreu e João Guilherme Ávila no elenco.

Assista ao trailer de “Meu Pé de Laranja Lima” (2012)

A Hora da Estrela, de Clarisse Lispector
Macabéa é uma migrante nordestina pobre que está sobrevivendo na cidade grande. A jovem alagoana não tem futuro e seu passado é inexpressivo. Em sua jornada no Rio de Janeiro, ela conhece Olímpico, também nordestino e de realidade socioeconômica similar à de Macabéa. Ao contrário da protagonista, o jovem é ambicioso e sonha com a ascensão social. Esse é o enredo de A Hora da Estrela, uma das mais cultuadas obras de Clarisse Lispector. Publicado em 1977, o livro foi adaptado para o cinema em 1985, com direção de Suzana Amaral. A versão cinematográfica reúne, no elenco, Marcélia Cartaxo, José Dumont e Tamara Taxman.

Assista ao trailer de “A Hora da Estrela”

Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto
Em 1915, Lima Barreto publicava, de forma integral, “Triste Fim de Policarpo Quaresma”. Considerado o principal representante do movimento pré-modernista no país, o livro é quase uma analogia de um Dom Quixote brasileiro, apresentando aos leitores Policarpo Quaresma, um anti-herói nacionalista e idealizador. Para além da exaltação de um patriota de conduta questionável, a obra de Lima Barreto é uma sátira impiedosa do próprio país. A versão para os cinemas recebeu o título de “Policarpo Quaresma, Herói do Brasil” e chegou às salas em 1998. Com direção de Paulo Thiago, a produção tem, no elenco, Paulo José, Giulia Gam, Tonico Pereira, Antonio Calloni e Othon Batos.

O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida
Lúcia Machado de Almeida foi responsável por despertar o gosto pela leitura em crianças e adolescentes. “O Escaravelho do Diabo”, publicado em 1953, é sua obra de maior sucesso e considerada uma das produções de ficção mais importantes da literatura nacional. No enredo, um misterioso assassino, obcecado pela cor vermelha, causa pânico em uma cidade do interior. A adaptação para o cinema chegou em 2016, com direção de Carlo Milani. A produção reúne Jonas Bloch, Marcos Caruso, Cirillo Luna e Thiago Rossetti interpretando os protagonistas da história.

Assista ao trailer de “O Escaravelho do Diabo”

O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo
A trilogia épica O tempo e o Vento narra a trajetória das famílias Terra-Cambará na formação do Rio Grande do Sul. Dividida em três partes, O continente, O retrato e O arquipélago, as histórias foram publicadas em 1949, 1951 e 1962, respectivamente. São dois séculos da história do povo gaúcho, iniciando em O continente, em 1745 com as missões dos jesuítas, e se estendendo até 1895, com o fim do cerco à casa dos Cambará. Os cinquenta anos restantes são condensados em O retrato e O arquipélago, cujos capítulos finais retratam a queda de Getúlio Vargas, em 1945. Em 2013, Jayme Monjardim dirigiu a adaptação cinematográfica da obra, que tinha no elenco Fernanda Montenegro, José de Abreu, Thiago Lacerda e Marjorie Estiano.

Assista ao trailer de “O Tempo e o Vento”

Dom Casmurro, de Machado de Assis
A mais importante obra literária de Machado de Assis, Dom Casmurro, foi publicada no fim do século XIX, em 1899. A narrativa peculiar, tendo o protagonista da história, Bento Santiago, em uma infindável dúvida sobre a fidelidade de sua esposa, Capitu, e a lealdade de seu melhor amigo, Escobar, é o fio condutor desse romance que desperta o interesse de cada vez mais leitores. Na versão cinematográfica, em 2003, a obra ganhou o título de Dom e, com direção de Moacyr Góes e Marcos Palmeira, Maria Fernanda Cândido e Bruno Garcia no elenco, o filme reatualiza a história machadiana a partir do imaginário de um homem cujos, apreciadores da obra de Machado de Assis, o batizaram com o mesmo nome do protagonista do livro.

Assista ao trailer de “Dom”

Vidas Secas, de Graciliano Ramos
Publicado em 1930, esse romance, que é considerado o trabalho mais emblemático de Graciliano Ramos, narra a travessia de uma família de retirantes que atravessam o sertão nordestino em busca de uma vida melhor. A fuga da seca e da miséria ganhou sua versão para o cinema em 1963, com direção de Nelson Pereira dos Santos, e Jofre Soares, Gilvan Lima, Oscar de Souza e Átila Lório no elenco.

Assista ao trailer de “Vidas Secas”

A Hora a e Vez de Augusto Matraga (Sagarana), João Guimarães Rosa
O conto de João Guimarães Rosa, A Hora e a Vez de Augusto Matraga, que encerra o livro Sagarana, publicado em 1946, também é uma visão particular do sertão mineiro. Marcado pela violência, pela vingança e pela constante luta do bem contra o mal, o conto tem, como figura central, Nhô Augusto, um homem cruel, que não mede esforços para mostrar quem manda na região. A história de Guimarães Rosa inspirou duas adaptações para o cinema. A primeira, de 1965, com direção de Roberto Santos, e Jofre Soares, Leonardo Villar e Maria Ribeiro no elenco. A segunda adaptação aconteceu em 2015, sob direção de Vinícius Coimbra, e com Chico Anysio, José Wilker, Júlio Andrade e Vanessa Gerbelli no elenco.

Assista ao trailer de “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”

Imagem: Cartaz do filme Macunaíma (1969) /Disribuição Condor Filmes

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