Educador foi responsável por estimular ideias que de uma atuação pública e compromissada com a escola de qualidade social
Em celebração ao ano do Centenário de Paulo Freire, a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais dá sequência às publicações que relembram o legado do Patrono da Educação Brasileira. Todo dia 19 de cada mês, até setembro, serão publicados diversos conteúdos em nossas redes sociais e, também, no site, evidenciando a vida e a obra de Freire. Em agosto, o tema é voltado ao trabalho que Freire realizou como Educador enquanto ocupou o cargo de Secretário Municipal de Educação, na cidade de São Paulo (SP).
Paulo Freire esteve à frente da Secretaria Municipal de Educação da capital paulista em um momento muito especial da história brasileira, pois sua gestão ocorreu entre 1989 e 1992: período da redemocratização do país, além do fim da gestão de Jânio Quadros (1986 – 1989), tida por muitos como autoritária. Jânio havia começado o seu governo queimando todo o material que o governo anterior tinha produzido juntamente com educadores, e punindo uma série de professores da rede. A nova gestão apresentava uma proposta inovadora e democrática para a Educação, com valorização dos educadores e baseada nos princípios da autonomia, participação e descentralização.
As grandes prioridades deste novo modelo proposto por Freire eram:
Democratização da gestão, que era criar mecanismos para aumentar a participação na tomada das decisões, com a reativação dos conselhos escolares, já criados em administrações anteriores que garantiam a participação das famílias e alunos(as). Criação de colegiados nos órgãos intermediários e centrais, com reuniões semanais, para que as informações começassem a circular.
Nova qualidade de ensino, que significava tanto uma reorientação curricular na escola (ou seja, o que e como ela deveria ensinar, como avaliar), como a formação dos educadores. Possibilidade de assessoria e de pagamento extra para os professores para as reuniões, em ambas as atividades marcaram a sua gestão.
Democratização do acesso e da permanência, no sentido de abrir mais vagas pra colocar mais pessoas dentro da escola. O que era possível com a compra, construção e reforma de prédios, abertura de vagas no período noturno, pois nem sempre as escolas funcionavam à noite. Foram construídas 90 escolas nesse período, garantindo que a educação pública fosse realmente compromisso do estado.
Política de educação de jovens e adultos (EJA), uma prioridade ainda maior para o Educador Paulo Freire. Como a rede municipal poderia trabalhar no sentido de atender jovens e adultos(as) trabalhadores(as)? Foram definidas novas possibilidades para a EJA dentro e fora da rede. Além de abrir as escolas à noite, foi criado também o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova) – que existe até hoje e que trabalha a educação não formal, fora da escola – nas associações de bairro, igrejas e empresas etc. E ainda, a Frente dos Funcionários, que oferecia cursos para os trabalhadores de outras secretarias que não tinham o ensino fundamental completo.
Foi esse conjunto de ações que definiu a política da educação naquele momento, e foi uma construção conjunta, e que hoje é referência de gestão pública em educação. O principal legado de Paulo Freire foi a crença em uma gestão pública compromissada com a escola de qualidade social – que pensa a emancipação do sujeito, que tem um currículo que explica a realidade, que percebe o estudante como um cidadão capaz de questionar e entender os seus direitos. Para isso, é preciso, no entanto, ter vontade política e gente preparada e motivada.
O período também foi marcado por mitos desafios. Primeiro, o conservadorismo da grande mídia e dos grupos políticos da cidade. Outros, intrínsecos ao trabalho, como chegar a consensos, manter a unidade na diversidade entre outras questões. Era um processo que exigia mudança interna dos educadores. Tudo era questionado, através dos grupos de formação, tentando mudar e refletir sobre a prática e a partir dos atores que estão por trás dela, os docentes.
“O obstáculo maior que enfrentamos e temos que enfrentar para realizar a mudança da cara da escola é o ideológico. Não é fácil remover de nós o gosto das posturas autoritárias” (Paulo Freire).
A nova concepção era de que havia diferentes culturas, não inferiores ou superiores. E valorizar as diferentes culturas também fazia parte da discussão, na formação continuada. Essa formação continuada precisava abranger o maior número possível de profissionais, de forma coletiva, criando um movimento de transformação. Era uma reflexão geradora de mudança na prática do professor.
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Um dos formatos utilizados nas formações foi o “grupo de formação”, que se inspirava nos círculos de cultura, criados por Freire. Foi feita uma reorientação curricular, a partir de um grande diagnóstico, com a participação das famílias, alunos e educadores. Houve também uma troca intensa com as universidades durante todo o governo.
Era bem relevante o trabalho da escola junto aos conselhos escolares, de trazer a família e dar elementos para que ela pudesse entender o que é uma boa escola – que é uma escola a favor da população, da transformação social e da autonomia, e não aquela que está trabalhando na direção contrária, ou seja, voltada para a submissão dos sujeitos, uma educação “bancária”.
Falta um mês par ao centenário.
Viva Paulo Freire!
Fonte: Portal CENPEC.