Resenha da Semana: Soldados de Salamina, de Javier Cercas

Resenha da Semana: Soldados de Salamina, de Javier Cercas

BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS
Setor de Empréstimo Domiciliar
CERCAS, Javier. Soldados de Salamina. São Paulo: Francis, 2004. 241 p.

Escrito por Javier Cercas — autor espanhol cujos livros foram traduzidos para mais de trinta línguas e obtiveram diversos prêmios —, Soldados de Salamina, publicado em 2001, vendeu mais de meio milhão de cópias. É uma releitura da Guerra Civil Espanhola que se concentra em Sánchez Mazas, fundador da Falange que se tornou ministro no governo de Franco e, depois disso, um escritor menor — pouca atenção foi dada a ele, pois suas carreiras, política e literária, foram curtas, modestas.

Soldados de Salaminaé, de certa maneira, uma conjectura, ou uma sequência delas: e se Sánchez Mazas, tendo enfrentado a morte por fuzilamento como prisioneiro das forças republicanas, tivesse uma segunda fuga da morte no mesmo dia? E se, após fugir das balas, ele tivesse encarado a morte no rosto de um membro de um grupo de busca republicano, que simplesmente lhe desviou o olhar, fingindo não o ver? E se ele tivesse efetivamente alcançado uma terceira ressurreição quando, faminto e exausto, foi resgatado pelos Amigos da Floresta? E se um desses amigos garantisse que, futuramente, Sánchez Mazas “contasse a história inteira em um livro — Soldados de Salamina”? Qual seria a relevência de um episódio como esse na história do séc. XX?

O protagonista do romance é um jornalista que se improvisa como historiador. Através de suas buscas intelectuais, ora dominado pela dúvida, ora levado pela esperança, o leitor testemunha uma “fábrica de história”: uma história do passado próximo que às vezes torna obsoletas as fronteiras da história, que confronta e integra a memória dos atores sobreviventes de um processo histórico.

Soldados de Salaminafigura, assim, como releitura de um dos momentos mais marcantes da Guerra Civil Espanhola, que, de 1936 a 1939, dividiu a Espanha entre republicanos leais à Segunda República Espanhola (anarquistas e comunistas) e nacionalistas (monarquistas, carlistas, falangistas —i. e. membros da Falange Española de las JONS, posteriormente Falange Española Tradicionalista y de las Juntas de Ofensiva Nacional Sindicalista —etc.). Ainda que não seja o primeiro romance ambientado na Guerra, é o primeiro a concentrar-se em seu ponto de virada —a Catalunha.

O romance de Cercas deve ser lido sobretudo porque nos convida a desemaranhar uma complexa teia de relações que envolve história, romance, ficção e lenda —e, talvez, mito. Javier Cercas multiplica aporias causadas por oscilações de um registro a outro —em Soldados de Salamina, vários problemas relacionados ao tema se juntam sem encontrar uma solução. Afinal, não é parte de um quebra-cabeça não ter resposta definitiva?

Resenha por João Cezar Germano G. Freitas
Servidor da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais

Pular para o conteúdo
Fale Conosco